Ecopedagogia e Políticas Públicas
Profª Drª Andrea R. B. Marinho
Em seu livro O Ponto da Mutação, Fritjof Capra (1996), nos mostra como o pensamento cartesiano limitou-nos no enfoque de nosso pensamento humano. Descartes nos trouxe uma linha absolutamente racional de pensar – Penso, logo existo – o que nos leva a crer que só o pensamento basta e o conjunto humano referente ao sentir, agir, amar são secundários e até, descartáveis.
A visão cartesiana mecanicista gerou sobre todas as ciências uma forma de pensamento profundamente enraizado em nossa cultura que tem sido amiúde identificado como Método Científico. O que deixou a nossa cultura fragmentada e desenvolveu uma tecnologia e estilos de vida profundamente doentios. Como consequência disso temos a eterna necessidade de autoafirmação que é conseguida por meio de um comportamento exigente, agressivo, competitivo, gerando o poder de uma globalização racista, sexista, onde a violação tornou-se o eixo central de nossa cultura.
A sociedade atual, com a crise da humanidade, os valores relacionados à justiça, moral e fraternidade perdem o sentido real sentido. Se o trabalho nas políticas públicas for orientado em modelos de cidadãos que são preparados para viverem o mundo da produção, corremos o risco de transformar os alunos em peças da engrenagem capitalista, contribuindo cada vez mais para legitimar a estrutura social contraditória e desumana em que vivemos.
A visão sistêmica da realidade baseia-se na consciência do estado de inter-relação e interdependência essencial de todos os fenômenos tanto físicos, como biológicos, psicológicos, sociais, espirituais e culturais. Ou seja, as propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior. Desse modo o pensamento sistêmico é o pensamento “contextual”, e uma vez que explicamos as coisas por seu contexto significa que estamos explicando-as considerando o seu meio ambiente, também podemos dizer que o pensamento sistêmico e o pensamento ambientalista. Conduzir os trabalhos na gestão governamental com comunidades e funcionários a voltar a ver a Terra como um organismo vivo e sistêmico nos reporta à ética necessária para um desenvolvimento sustentável. Reporta-nos a ver que somos parte e apenas parte desse sistema, por isso, devemos educar o nosso olhar, as nossas ações e os nossos pensamentos à uma consciência planetária; a Cidadania Planetária. Afinal: “A Terra é uma nação, e os seres humanos, os seus cidadãos” (Rios-92).
Assim, a função social das políticas públicas parte do princípio da busca do sentido da vida em harmonia com os valores para uma sociedade mais justa, que desenvolve o sentimento de pertencimento e que contemple os direitos da Terra, de seus cidadãos, cidadãs. Parte, sobretudo, do princípio que nossa mente está colonizada por ideias hegemônicas, eurocêntricas e antropocêntricas, por isto, entender que as políticas públicas devem promover ações pautadas nas valorizações das culturas, do meio ambiente, dos seres humanos como parte de um planeta e de novas práticas de nossa população é o princípio fundante de uma política pública também consciente: descolonizar as mentes para transformar ambientalmente as atitudes humanas e construir uma nova cidade, uma nova sociedade, é missão.